terça-feira, 29 de março de 2011

Por ti Clementine


As folhas do meu quintal, as mesmas que não tirava desde os momentos febris, desde que saíra por aquela porta para nunca mais voltar.

Enfermo até no olhar vermelho das águas do âmago do ser abatido pelos mesmos olhos que não queriam enxergar que no amor quantia sofrimento – o mesmo que talvez o alimentasse – que o prendia aos teus seios que se revelava em você. Andava ainda de pés descalços quando veio pela calçada chutando os mundos de areia. E os castelos não foram suficientes enquanto estava dentro deles, então de fora pude perceber quantas folhas de papel espalhei sobre a superfície da minha varanda.

Quisera eu achar Clementine perdida por aí e amá-la com toda a intensidade merecida, mesmo que não a visse sair e nem lembrasse das suas confissões enquanto eu dormia. Mas teria a recíproca que mereço.

Me apaixonei por essa mulher quando percorreu meu peito e deleitou-se em meus braços e em meus apegos. Quando vai embora não me sinto abandonado, sei que hora ou outra vai aparecer e sorrir pra mim e me deixar feliz, me completar.

Daria minha intimidade e minha timidez toda entre suas coxas por todas as noites, por toda a minha vida. Só precisaria, Clementine, que me dissesse que sim. Juntaria as minhas folhas, que outrora pensei em queimar, e lhe entregaria para rabiscar em seus livros – mesmo que no rodapé. Queria ser a contra-capa da sua vida ou ainda um texto na orelha, em teu ouvido.

Plantarei por ti, Clementine, flores em meu jardim, em minha casa rente à janela, perto de onde eu possa esperar que cresçam e entregá-las a ti. Surpreendendo a mim a cada reação que pudesse causar em você.

Velejando a poucos nós da costa, pois se sinto saudades volto a tempo de lhe ver ainda saindo no frescor de seu banho, quem sabe, desnuda. E por horas admirar teu contraste com o sol, teu contorno à luz, teus olhos profundos que somem enquanto lhe ordeno um beijo.

Venha esta noite e me olhe amanhã ao alvorecer do dia, se apaixone. Tente ir embora, se esforce, abra a porta depois de me beijar os olhos, chegue ao corredor, ao portão e se arrependa, volte e deite ao meu lado. Fique ali para sempre, onde estarei para lhe abraçar e sorrir como se ainda fosse noite.

domingo, 27 de março de 2011

Adrenalina

É meu coração que é movido a altas doses de adrenalina. Se ele não acelerar sempre não consigo viver. Não gosto de nada morno, eu gosto do que me tira o fôlego e me faz flutuar... Por isso, sou uma colecionadora de amigos, amores e muitas aventuras.

E são essas emoções que, por vezes, me deixam em êxtase supremo, que me dão a sensação de que os pés tocam o chão somente quando necessário e quando não estou com um amigo a mil gargalhadas – sem medir os decibéis – com um amante em delírios, em planaltos sobre meus saltos ou por aí, por qualquer lugar me aventurando só ou acompanhada de um alguém que não eu mesma.

Mas ainda que pudesse ser possuída por tais mãos, boas ou ruins, de mãos dadas ou entrelaçadas em meu entorno e eu entorno delas, não buscando firmeza e sim o calor ardente que fazem sentir viva e novamente pronta para me aventurar por qualquer destino e para abraçar meus amigos. Apenas para guardar vocês em meus copos de cristal.

É essa adrenalina que faz bombear a minha vida e quem não puder me acompanhar que nem venha. Não se atreva! Só pode estar aqui quem ousa e quem gosta de uma boa dose de "tudo um pouco". Porque eu me arrisco e essa é a essência do meu ser, e se quiser que me aceite deste jeito. Sem tirar nem pôr!

terça-feira, 22 de março de 2011

O samba não me atravessou

No meio do Carnaval o samba tentou me atravessar. Boêmio e alegre estampei-lhe um sorriso, pedi desculpas ao acaso e fui pular por outros blocos.

Balançando no ritmo da banda pulei bem alto e as colombinas, no meio da avenida, me chamaram para acompanhar seus passos e se embebedarem em mim.

Passei pelas bandeiras brancas em outras épocas, agora o que queria mesmo que os saltos dos corações inquebráveis, carnavalescos jogassem como o frevo. Mas parei no meio da página e pensei que evoco apenas as frases de Vinicius. E março passa lentamente com suas águas e serpentinas.

E as cores de chocolate que desfilaram em meus lábios. E lá de cima Dona Ivone me falando que ignora o passado e ela já havia passado por mim em outra hora. Mas porque recomeçar se da maneira que está me delicio entre as vestes e as máscaras que cobrem os mais belos beijos?

Fadado a diversão e a milhares de bocas sem nome, que a folia me permite ter. Vou a pé ou como puder no meio da multidão. Que a vida seja dessa generosidade comigo.

Nem penso mais em flores em meio a essa euforia. O que quero é viver e dar a mim mesmo o prazer de não errar a letra que não sei e nem o passo que não fiz. Da fantasia achei que nunca mais sairia e que ela não saia mais de mim.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Empoeirado


As folhas secas já invadiram meu quarto e estão sobre as folhas que um dia escrevi para elas, as mesmas que já não me escutam, mas me lêem, disfarçadamente. Eu que ainda consigo rabiscar papéis em nomes e modos diferentes e por cada sorriso pelo qual me apaixono, de esquina e transversais diversas.

Os móveis estão empoeirados e eu já quase não os vejo. Por lembrar demais delas, quase não me faço mais presente em minha casa. A minha casa, somente ela, deve ainda lembrar de quem eu sou, a cama está sentindo falta dos afagos e carícias ensandecidas, porém deixou de me amar, acredito.

Não consigo tantas lágrimas para chorá-las sobre o papel, posso colocar os sorrisos e as possibilidades de amores que surgem em minha vida. E posso eu amar à todas, de formas diferentes, em separado ou ao mesmo tempo. Com as pitadas necessárias para ficar ao meu gosto, ao meu paladar. Ainda cabem degustações descontroladas, sem nexo algum, apenas por vontades.

Dias atrás pus sobre a mesa livros de amor, velhos livros, não vou ler novamente, quero romances novos, quero felicidade.

Vou até lá amanhã. É bem possível que você me acompanhe – nem que em pensamento. Passo a passo, você me segue. Você que já percorreu esse caminho há muitos ou há poucos dias.

Nós tiraremos a poeira que se acumula sobre o tempo. Faremos tudo o que sua mente permitir e repetiremos, se você quiser. Sem olho no olho, apenas se sente ou deite e deixe que eu contemple as suas memórias, desfrute teu corpo. Que a poeira não se acumule mais sobre esta estante e que as mãos e os corpos deleitem-se nos instantes.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O quanto posso falar

Eram meias palavras de canto de boca, ainda não sei se como quem quer nada ou se por brincadeira. E se nas reticências não fosse a noite inteira capaz de me conter em dois verbos? E precisasse conjugar não só o que via no olhar – e vinha a voz da Marrom – quase um giro com as mãos, que se amarravam aos pés e delicadas subiam, sentiam a respiração, que ofegante lhe era compenetrado na imagem que ao refletir nele ainda flerta um alçar ou intrigas, mas que se entrega quando se fecha ao mais simples toque em seu corpo fervoroso.

Meus anseios vão além de alimentar esses seus seios sedentos de mim, por mim, da minha presença entre você à meia luz ou breu total, para achar-lhe e deixar-lhe os encantos que minha língua afiada é capaz de dizer, mas só ao pé-do-ouvido, deitado no gozo do teu colo e no prazer da tua pele.

Ainda assim, se quiser me consumir entre afagos e carícias posso tocar o seu corpo e amar-te com quiser, não me faça o sedutor, me faça sorrir e deixe que o resto eu mesmo falo.

domingo, 13 de março de 2011

Fortalecido

Fortalecido agora eu lembro ...

q nas vezes q estive perdido ...

sem saber se era querido ...

ou se tinha o valor merecido ???

nessas horas , tudo q precisei ...

foi de um amigo ...

daqueles q não nunca nos deixam ...

nem nos momentos de perigo ...

vc sabe , os q dão abrigo !!!!!

aquele , q sem ele...

eu teria morrido ...

pensei e resolvi ...

fazer oq havia prometido !!!!!!

essa é pra vc meu amigo ...

eu poderia ter sucumbido ...

ou ter virado um mendigo ...

viveria deprimido e estaria estendido...

se vc não tivesse me socorrido !!!!!

e agora te agradeço , mais uma vez ...

por ter vivido o momento comigo ...

e por ter me defendido e me protegido !!!!!

naquele tempo q vivi oprimido, enfraquecido ...

e se não tivesse me convencido ...

hoje eu nem teria envelhecido ...

pra mim , vc é o verdadeiro destemido !!!!!

e meu eterno amigo ..........

sexta-feira, 11 de março de 2011

Previsível

Das infinitas belezas pairei sobre você

Que naquela hora fisgou minha retina

Que era mesmo o que meus olhos queriam ver

De implacáveis verbetes que não se liam

Só o movimento dos lábios de leitura previsível

E das mãos de toque quase sublime

Foste sem alimentar nenhum desejo

Indo deixou que, ao menos, visse a saudade

Vindo fez com que eu me prendesse em você

Rindo me jogou à deriva no teu mar

Quando, então, me deu as mãos entendi

Que estaria ali para me salvar

Posso aportar em ti, sem medo

- Disso não me restam dúvidas

Minha menina, sorriso doce cativante

Choras as pedras perdidas por si só

Haverá outra forma de chorá-las? Não

Era também negativa a outra vontade

Dera a mão e não paisagem

Digo infinita a minha fonte

Seja de formal igual a vida

Que nela sua presença siga constante.

Carnaval de Mariah

Lá do meio de vários foliões veio você brilhando, a Colombina, minha Menina. E eu, que não era só mais um palhaço na imensidão da festa, atirei-me para lhe abraçar e ver que cresceu. Noutro dia era a minha garotinha que tinha vergonha de falar e, agora, me falava com o sorriso o quanto era feliz, os seus olhos brilharam em todo momento, incandescendo a noite que ainda começava.

Caí na avenida com teu samba no pé e vidrado em você. Não queria perder um minuto da minha euforia e da sua energia. Cada bloco que saía e o seu não vinha deixava a pista menor pras tuas pernas que bailavam cheias de firmeza e graciosidade. Lembrei das minhas canções para aquela princesinha lá dos tempos antigos, sorri.

E tudo que me deu naquela noite não caberia aqui. Você, minha Mariah, me deu o sabor exato da felicidade. A Colombina a dançar. Serpentinas, confetes e espumas.

São apenas os encantamentos da Menina que se tornou mulher, linda – casou perfeitamente o Carnaval com você. Feliz é ele e me mata de inveja, mas me abraça, pois ele já se vai.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Irônico


Te arrancar de dentro de mim é algo tão complicado que parece que tudo o que fomos se prende aqui dentro, como se eu tivesse entranhas.

Não quero que meus amores seguintes sejam você, cada qual será e terá a intensidade que a vida permitir. E que permita essa que a regue como se rega as coisas mais comuns – de maior simplicidade.

Quero, hoje, as Rosas, dessas quero a Púrpura, quero que esta me aflore manhãs e não assole minha vida.

Das dezenas já escritas e remetidas, das centenas já perdidas. As folhas e as pétalas já caídas, os ramos esquecidos. Rumei e arrumei em caminhos não trilhados, donde longe parecia e nem quase ria fronte aos meus medos, pus abaixo os meus zelos e mergulhei nos espinhos.

Não limitei a ironia, mas figurei as palavras plantadas de modo que nem mesmo eu as entendesse mais. Conte no caminho, porém não me siga, uma por uma.

Em minhas vestes de voz desafinada que declama as histórias de fábulas mal escritas por mim. Dessas tortas palavras que eu me refugiava em marés ontem e, hoje, em ondas, contudo as pedras são as mesmas.

Dar-lhes nomes ou codinomes não pôs minhas mãos em sua pele. Entregar meu coração e descamar, talvez.

Ainda que haja ou haverá pureza em tons de voz, fora todo o possível para me fazer feliz ou, ao menos, quando me olhasse no espelho essas olheiras já tivessem ido embora. Já não importa mais, vou deixar elas aqui junto às marcas do tempo – não mais para que eu lembre você – mas, sim, para que eu não esqueça das feridas.

Amor guardado

E os quadros que emoldurei os meus dizeres

Dito pelo dito, pois o não dito foi

O que fora impresso na imagem

Dentre tantas folhas as das Cordilheiras

A escolhida, lá do alto você toda elegante,

Majestosa, como sempre.

Secam os lábios e as letras – alta madrugada

Como uma marchinha vinham debruçadas

As palavras e melodia, mas que nem era canção

É pro meu espanto, pois até cantora tinha

Metais e os compassos, só faltaram os foliões

E na parte que te compunha ouvia o Rio de Janeiro

Um dia puseste as minhas palavras pelas

Paredes da casa, espalhate-nas com orgulho

Meus quadros hoje guardados no armário

Sairão para mostrar a multidão os Carnavais,

Que epopéias não descritas constroem

Se guardadas com amor.

Rosas furtadas

Toma essas rosas roubadas do meu quintal

Cuidado pois nelas há espinhos

Cuidado neles podem haver feridas

No mundo existem mágoas à nossa espera

Pare e olhe nos meus olhos apaixonados

Deixe-me olhar os teus

Não deixe de me dar os meus sorrisos

Faça que as rosas sejam rosas

E que os espinhos não lhe a deixe feridas

Leve do meu quintal todas as flores

Me leve junto delas

Desça de lá para que eu possa te olhar

Toma essas rosas furtadas de jardins

Alheio sou eu que as quis furtar

Para plantar em seus ramos

Tudo o que as minhas flores possam dar

Quero te dar tudo

E ser tudo para você

Pegue essas flores, essas rosas

Deite-nas em seus braços

Exale seus perfumes

Apague a luz para que possamos senti-las.

Nas paredes

Achei os meus postais que me arrancou das paredes, assim como levara de mim toda poesia dispensada da sacada que nem havia.

No meio das inúmeras insônias causadas por ti me revelo entrelaçado com os meus conflitos internos e, por isso, talvez, faltem as palavras ódio e amor ou não por esse motivo.

Por conta desse mar de dúvidas é que não sei se me deixo seguir pelas noites sombreadas de solidão ou ainda se coloco no penhor meu coração – pego de volta quando puder amar.

E aqueles velhos postais, companheiros de tantas noites de insônia, hoje voltam a ser meus companheiros nesse velejo lento e penoso.

Sei que deles não devo lhe remeter nenhum, nem, ao menos, a avisar a ti por onde vou me encontrando e aonde vou me perdendo.

Cansei de colher flores – colecionar amores – e vou fazer o meu refrão com duas notas e duas mãos, mergulhar em espinhos e chorar essas dores – mas eu vou me enganar.

Tudo ainda é enleio, a causa é presumível, o vendaval que passou em minha vida. Mas não há previsão de tempestade passar na região do meu peito por algum tempo, então, vou juntar as imagens e postais e recolocá-los nas paredes, gradativamente, até que tudo tome a forma devida outra vez, até que tudo tome a forma de vida novamente.