sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ponto Final

Arrumar meu quarto depois que ela foi embora pela porta da cozinha é quase como deixar o passado passar pela varanda, recolher a fruta qualquer de gosto amargo e descer o último lance de escadas. Depois de deixar a cama amarrotada e meu rosto da mesma forma, espalho, derramo os livros por cima dela, por dentro da minha cabeça. As letras inúmeras que pelos olhos já me circularam frente a frente com a história que me passa rente aos dedos que regem página por página. Procurando gravuras onde estejam gravadas as formas do que pude por tempos atrás lhe falar.

Expus em caderno vivo e alheio as minhas pedras, de veras coloquei às vistas do mundo as minhas emoções. E quando pisou o último degrau quase pedi para que ficasse, quase – como quase sinto falta – mas achei por bem eu ficar em solo neste palco – ou picadeiro? – pois descera ali os males que puseste nas costas junto ao teu sorriso torpe e a secura de teus afagos e das avarezas de teu corpo. Foste e deixou a porta aberta, em seguida corre e me abraça como nunca fizera antes, ela, que há muito não me visitava. Entrou felicidade, por minha porta, e me disse que nunca esquecera de mim, mas que não me visitava mais por medo de se entristecer.

Sento à mesa com cigarro na mão e ofereço um gole da secura de sentimentos que deixaste um punhado para trás e, assim, pudera provar do que me alimentei por muito tempo. Nem falsa ternura no olhar era doce. Alegria me disse que morreria se provasse daquilo, quase sólido não era, e só causava dor nas entranhas, estranhas.

Como se em cada vírgula que pude colocar fosse o pretexto para respirar sem ver, tentar olhar entre as grades e me afugentar no que plantaram lá fora, em qualquer coisa ou olhar desviado. Antes só pelo apelo astuto do uso das reticências para deixar obscuro o final e hoje enfim é o que pontua.

3 comentários:

Lana disse...

delicioso...adorei o modo como me levou...me fez parar em silencio absoluto só para apreciar suas palavras de amargura...adorei meu amor...soh n digo que eh lindo por que eh triste...rs... maravilhoso...obrigada pela dose de hoje..

Rubens Milioli disse...

Nem toda tristeza é feia, assim como, nem toda alegria é bela. De qualquer forma agradeço!

Paulinhaaa disse...

enfim...