sábado, 30 de abril de 2011

Um olhar de despedida


Um olhar de despedida

Como se quisesse ficar

Como se quisesse que eu fosse

Inda se quisera me ver

Anda quando olha pra trás

Como se quisesse me ver

Como se quisesse que eu fosse

Quando partiu sofreu

Quanto partiu os laços

Como se quisesse sofrer

Como se quisesse que eu fosse

Me olhou pela última vez

Me olhaste já de certa distância

Como um olhar de despedida

Intempestiva Tempestade


Se molhas o meu chão, minha terra, meu abril, minha letras e vontades. Me molha e encharca meus títulos, meus amores, minhas peças, meus diálogos e monólogos. E quando parecia que foste embora cai de novo, como meu choro, beirando o mês de maio.

Me toma de assalto um afogar em poças de lágrimas e de águas caídas. Me prendo às bordas, mas me leva pra dentro desse turbilhão, desse sofrer intenso que é o anúncio do inverno. Quando molham minhas rosas e me rasga a angústia em ter os pés frios. E quando, mesmo a nicotina, não consegue me acalmar e, mesmo assim, me interroga.

Da minha cama posta por aí, feito de cigano, molhada das penosas lágrimas derramo noite por noite – minha tempestade. Os alagamentos em frente a minha porta, as enchentes das palavras que não se calam.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mesmo as palavras


Já debruçada sobre minha escrita

Te vejo de olhos brilhantes e

Sorriso estampado. E essa minha

Escrita de velhas frases te encanta

Enquanto as letras passam de palavra

Em palavra em um movimento

Quase sistemático entre elogios e

Melancolias ou intensos prazeres.

Enquanto debruçavas sobre mim escrevia

A lhe ver os olhos brilhantes e

Qualquer sorriso. E essa minha

Escrita com frases velhas te encanta

Enquanto passam as letras de mãos

Em mãos em um singelo movimento

Quase que romântico entre carícias e

Amores ou irreverência incomum.

Quando debruçaste sobre nós escreveram

Os nossos olhos vermelhos e sem

Sorriso algum. E essa escrita alheia

De frases modernas te alertam

Enquanto as letras passam de palavra

Em palavra em um movimento

Quase errante entre segredos e

Cochichos ou expressões arrogantes.

Ainda debruçada sobre esta escrita

Vejamos com olhos ofegantes e

Sorriso de lado. E essa escrita

Minha de frases lavadas te induzem

Enquanto passam as letras de mãos

Em mãos em apenas um movimento

Quase de maldade entre falácias e

Mentiras ou saberes fúteis.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Doce e Amargo

Falo com toda brutalidade meus pensamentos esperando sempre um sorriso que, no final, quase que rotineiramente, aparece. Deixo você sem fôlego em um desenrolar de línguas que saltam devassas de bocas insanas e fazem escândalos aos teus olhos, me morde.

Em nosso coito calado nas sombras ou à luzes que não escondem as mãos e os toques sem pudor e os suspiros cheios de tremor, cheios de voracidade e é quando para me olhando que vejo que o desejo já alavanca o meu membro, que enrijecido pede que procuremos um jeito de abrasar e degustar os nossos sexos, um ao outro e saciarmos as vontades que já não cessam mais os segredos, estes ainda precisam ser guardados.

E se pego teus cabelos, delicadamente forte, vai à loucura, desço dedilhando seu corpo, meu instrumento musical – gemidos e sussurros. Beijo teu colo e teu pescoço, entre teus seios, mordo tua nuca, marco você de arrepios prolongados. Sorri. Sorria novamente. Me dê prazer, se abra para mim, lance tuas vulnerabilidades em meu corpo, se delicie. Quebre os protocolos, jogue ao chão os preconceitos. Se agarre nas paredes, se agarre em mim, navalhe minhas costas com suas unhas afiadas no encontro de nossos falos. Suados de calor e no calor do sexo, ao ponto.

Em meio aos sorrisos deixo seu corpo sonolento e sigo minha hora, não posso deixá-la esquecer que não sou quem espera. Ainda haverão outros sorrisos, mas que não se acostume com eles, um dia lhe farei chorar. Sempre faço isso – eu sei que choram escondidas nos banheiros – mas o faço bem, com toda doçura que precisam.

domingo, 17 de abril de 2011

Maçã Verde

O cheiro de Maçã Verde inda está entre os meus dedos, entre os meus lábios. Dos mesmos quais faltaram os teus para completá-los, mas entendo se as maldades os afastaram.

Donde não pude alcançar veio teu sorriso e todos os seus novos sons. Então deu o tom do qual ora sorrisos ora fechava os olhos.

O Poeta deixa apenas o tempo correr mesmo com todas as facas que possam enfiar em seu coração, não se importa em vê-la saracoteando sobre as mesmas adagas que me apunhalaram, como fosse o veneno e o antídoto e que em outra hora foste vacinado em todas as doses recomendadas.

Quando remeter essa carta ainda vão pensar que partilhamos, além de nossos ótimos papos on ou off, doutros sentimentos. Surgirão dúvidas e certezas, sugestões e indicações. Mas eu vou continuar escutando suas músicas e seus batuques, ainda será minha Musicista, minha amiga e de nobre companhia.

Eu, o Poeta, só não poderia deixar que o gosto de Maçã Verde passasse em fumaça e cinzas esquecidas aos chãos boêmios, as nossas boemias, da Lapa.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Horta


As terras daqui são de fertilidade tamanha que de quase tudo tem. De quase tudo se gosta também e de nada se perde.

Mesmo assim, sinto saudades daquilo que não tem mais, dos gostos que já me abordaram a boca e adoçaram a vida. Ainda me lembro das carambolas que, ora bolas, tinham o suco da existência dos meus sorrisos, enquanto infância. E as jacas que tanto pesavam e aguçavam os gostos alheios, caiam repentinas, normalmente vespertinas, quando o sol passava à pino. Aquelas goiabas vermelhas já desciam das telhas direto nas mãos ou que ainda fosse necessário subir ao pé para buscá-las. Dos sapotis só os morcegos e a Sapucaí têm saudades, nunca provei do gosto doce delas.

Algo temperado como essas terras de hortelã, manjericão, alecrim e louro dispenso os sais que me oferecem em outros pratos. Minhas massas já se acostumaram com as variações que busco lá fora.

Dentre as folhas que tantas são se destacam as flores, não as minhas. Mas as samambaias, bromélias e coqueiros as destacam. As belas rosas, as flores de bananeira e o solitário gira-sol que, às vezes, some.

O que comer ainda me dão, não me canso das amarguras, das pitangas. O papaia já foi providenciado para adocicar o que o cacau já acimentado não pode mais me dar. Não sei por quanto tempo ainda vou ficar por aqui, talvez plante duas mangueiras para pôr minha rede e olhar para o futuro com mais calma aqui do meu quintal.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ao ar livre


Eu gosto é do vento na cara. Gosto de atravessar a “Portinha”. De todas aventuras sobre o Aqueduto, por cima dos arcos, olho e vejo as minhas ruas preferidas, as mesmas que são profanadas e promíscuas.

Me espremo entre os postes inúmeros das ruas colônias desse bairro. Estico o corpo como em um alongamento desafiador, que hora posso noutra não. Sinto mesmo o prazer e a emoção de me esticar de fronte ao perigo, enquanto isso, olho sempre as mesmas janelas e bonecas de barro, que não saem de lá – quase todas feitas por aqui mesmo às “Portas-abertas”.

Falando ainda de olhar, vejo no meu trajeto verdades e mentiras, subindo a Almirante, olhando os horizontes, igrejas e ladeiras, já fui muito à do Castro, os espaços são tomados pelas nossas construções, mas nem sempre deixamos de ver as belezas. Vamos de estação por estação: do Curvelo com seus museus e cultura de fronte para a mais bela Baía ao Guima – só para os íntimos – onde podemos nos fartar desde o Pimenta até o Mineiro, às vezes, o Canto da Boca, e é difícil não encontrar alguém no Gomes, Esteves ou na Fatinha e partindo pro Largo das Neves e seu aconchego e tranqüilidade diversa.

Minha alegria em andar no estribo do nosso bonde no nosso bairro, Santa Teresa. Só fiquei um pouco triste quando cheguei em casa e minhas rosas estavam murchando, pois um breve inverno se aproxima.

sábado, 9 de abril de 2011

Das viagens


Ainda me lembro daquelas ruas, eu, boêmio, solitário e todas aquelas ruas só para as minhas pernas forasteiras olharem e degustarem delas – quase silenciosas – onde o ar tinha efeito e gosto diferentes. E também recordo dos pés passando ao longe, lentos e supérfluos.

Que espaços aquelas avenidas e adjacências tinham em linha reta ou quase assim. E onde pude ver, quase vislumbrado, a valsa dos descalços em ritmo de encantamento, naquele pré-carnaval antecipado. Meus pensamentos se sentiram em alto libidinosos e fizeram questão de guardar aquele momento pra que a colocasse no papel e que um dia ele te encontre.

Voltei àquelas ruas por todas as noites que passei por lá só para lembrar da primeira na qual só pude saber seu nome, na qual você se foi enquanto eu só pude olhar de longe, mas sorri.

Eu viajo com os pés no chão. Fecho os olhos e apareço em outro lugar toda noite. Tenho idéias tão loucas que só na minha cabeça já me fazem delirar. Consigo sentir esse prazer na ponta da língua, nos meus ouvidos e na pele arrepiada.

Quem me vê nesse transe lúdico deve ter as mais diversas concepções e quem disse que eu me importo? Sou um louco assumido, viajo a toda hora, minha cabeça é cheia de países, sonhos e pessoas, são muitas pessoas e loucuras. Vivo munido de toda fertilidade de pensamentos, imaginações. Meus olhos fechados são meu passaporte.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ponto Final

Arrumar meu quarto depois que ela foi embora pela porta da cozinha é quase como deixar o passado passar pela varanda, recolher a fruta qualquer de gosto amargo e descer o último lance de escadas. Depois de deixar a cama amarrotada e meu rosto da mesma forma, espalho, derramo os livros por cima dela, por dentro da minha cabeça. As letras inúmeras que pelos olhos já me circularam frente a frente com a história que me passa rente aos dedos que regem página por página. Procurando gravuras onde estejam gravadas as formas do que pude por tempos atrás lhe falar.

Expus em caderno vivo e alheio as minhas pedras, de veras coloquei às vistas do mundo as minhas emoções. E quando pisou o último degrau quase pedi para que ficasse, quase – como quase sinto falta – mas achei por bem eu ficar em solo neste palco – ou picadeiro? – pois descera ali os males que puseste nas costas junto ao teu sorriso torpe e a secura de teus afagos e das avarezas de teu corpo. Foste e deixou a porta aberta, em seguida corre e me abraça como nunca fizera antes, ela, que há muito não me visitava. Entrou felicidade, por minha porta, e me disse que nunca esquecera de mim, mas que não me visitava mais por medo de se entristecer.

Sento à mesa com cigarro na mão e ofereço um gole da secura de sentimentos que deixaste um punhado para trás e, assim, pudera provar do que me alimentei por muito tempo. Nem falsa ternura no olhar era doce. Alegria me disse que morreria se provasse daquilo, quase sólido não era, e só causava dor nas entranhas, estranhas.

Como se em cada vírgula que pude colocar fosse o pretexto para respirar sem ver, tentar olhar entre as grades e me afugentar no que plantaram lá fora, em qualquer coisa ou olhar desviado. Antes só pelo apelo astuto do uso das reticências para deixar obscuro o final e hoje enfim é o que pontua.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Nada é verdade

Noutro dia a data era ainda o dia primeiro deste mês e uma pessoa que muito sabia o que comer me daria e diria que por ali era só o alimento que o corpo precisava o que a mente consumia só mesmo Pessoa poderia, talvez em faceta de Campos, mas só ele me falaria e mostraria que eu sou complexo, nem tão alto – talvez tão habitado – quanto o do Alemão. Dentro dos nossos livretos de três ou cinco frases – só para dar números incertos – estavam tudo que já lemos até hoje.

Essa pessoa, mulher, me deixou com um certo tom de dúvida: Se por tudo minto nesse dia dizer que morri seria mentir também? Se por verdades faltarem nesta data morrer seria mentir? Não é verdade que morri, mesmo que de rir, é um dia como outro, nada é verdade.

domingo, 3 de abril de 2011

Menina Musicista

São as mãos que dão toque aos tambores que artesianas, fortes e delicados são os timbres que aportam sobre o couro. Sorri junto aos chacoaleamentos e me apresenta a musicalidade da qual antes tive direito a uma prévia.

Misturando seus cabelos cacheados aos de outras etnias e não se importa com isso. Quando para o som de tocar por instante, há sempre uma sugestão adiante. Vive por ela, mas rege seus próprios passos – cheios de sons – e propósitos para essa paixão não lhe faltam.

Dos batuques dos terreiros aos tons eletrizados nordestinos ela se fascina sempre e tenha certeza que escutará toda a beleza que a música compôs em seus ouvidos, a mulher desses sorrisos encantados entre baquetas e dedais, uma menina musicista, uma bela musicista. Brilha tanto quanto sua musicalidade. Dois acordes e três sons.

Eu e Você


E então tu chegaste, cheia de brilhos, de cheiros, de sotaques e um jeito inigualável. Trocamos sorrisos, olhares e algum gosto incomum. Tuas palavras ainda ecoam em meu pensamento e não consigo te esquecer. Da tua cor, da tua pele e o toque que me fez tremer.

Consigo sentir, talvez até com a mesma intensidade, teus cabelos enrolados em minhas mãos. Cachos perfeitos, macios, deslizando por entre os dedos. O hálito quente sussurrando no meu ouvido. Palavras sem sentido, as quais não sucumbi. Está gravado em minh’alma, tão profundo, imponente como se nem que quisesse poderia tirar. Sinto teu cheiro no meu corpo, nas minhas mãos, sinto tua pele rente a minha, sinto o calor emanando dela, te sinto com o mesmo tino. É como se estivesse aqui me olhando, com aquele olhar penetrante, tão cabuloso, que não consigo me despistar dele. Sinto nossos corpos comprimidos e a vontade louca de se fundir. Incorporados como um só. Os suores escorrendo por entre nós dois, o peito arfante, a dor. Algo tão forte, mas tão cruel. Tua voz rouca ecoa aqui dentro, pedindo mais, querendo mais. Teus lábios doces encostados nos meus, a saliva percorrendo meu peito, as mãos, o desejo. Tudo está cravado em mim.

E neste momento onde estará? Pregando o mesmo desejo na alma de um outro qualquer. Ah, mulher... Se soubesses o quanto machuca não faria tal coisa novamente. Eu consigo ver com tanta perfeição teu sorriso lascivo, nossos olhares e a vontade surgir. Posso te sentir me tocando, tua força a me puxar para ti com tamanha euforia. Que fez de mim eu não sei. Seria capaz de encontrar-te agora neste instante, em qualquer lugar deste meu mundo, e entrar por tua roupa, passar por entre as pernas, os seios, beijar teu pescoço. Sentir tua pele arrepiada e tua mão em minha nuca me pedindo pra ficar. Mas onde estará?

Eu andava por aí, nem sei se perdida, mas andava. Sem rumo ia em direção do vento – rede moinho . Sabia que se eu deixasse por aqui os ventos ainda seriam capazes de jogá-los aos meus pés e invadir minhas entranhas, arranho, lanho, eu me descabelo, prometo o mundo, um filho, os deixo de quatro e escapo antes do crepúsculo chegar, levanto e sigo o vento.

Deixei provar meu sexo, mas não minha vida. Provar quem sou? Me reprovar por cair aos pés das camas alheias? Só provo aquele que me caia nas graças – pra ele desgraça – e me dê gargalhadas. Me desgarro sempre para seguir meus próprios passos, ir em frente com minhas próprias indecisões, me perder sozinha e me achar nos braços iludidos de outrem.

Mas se realmente precisa saber quem sou eu, onde eu estou comece a me procurar onde eu só poderia estar. Faça intervenções para que não me debruce em mais ninguém, que teus preceitos e angústias não existam mais. Que a falta que te faço também se extinga e assim você me possua por inteiro, rasgue minhas roupas e me dispa com ardor, selvagem como mereço, como te pedi. Me procure, me espere, pois estou eu no único lugar onde ainda não me procurou, onde nem mesmo a vida poderá me tirar de você, estou na sua imaginação e somente lá estaria, mas ainda pode me deixar escapar para outros laços.